sábado, maio 22, 2004

Dragão Negro - Renascimento

“Estranho como a mente traz a nós lembranças em momentos tão diversos... Tão ambíguos a elas. Uma noite fria, em uma fortaleza de aspecto similar à noite. Faz algumas horas desde que voltei da campanha, a qual ganhei liderança de meu mestre. Desde o retorno, me mantive aqui, deitado deixando que as imagens fluíssem.
Lembro-me que foi em uma noite assim onde tudo começou... Um frio cortante, uma Lua pálida, como se ela mesma resguardasse o medo que cairia junto ao crepúsculo. Todos no pequeno condado deviam estar na paz do sono, ou senão, vigiando por essa paz, para que o dia viesse brilhante para todos, e que assim continuasse até a próxima noite. Um ciclo repetitivo, mas que não entediava ninguém. Ao contrário, era motivo de prazer a muitos.
Uma luz, seguido imediatamente de um estrondo tempestuoso. Foram necessários apenas segundos para que toda aquela paz fosse trocada por caos. Crianças eram colocadas com as mulheres dentro de casas e outros abrigos. Homens e jovens estendiam o chamado às armas, enquanto os que chamavam de soldados iniciavam o combate. Entre os jovens, estava eu, assustado e confuso.
Apenas me entregaram uma espada e um escudo, ambos rústicos, mas ainda armas. Ordenaram-me que seguisse a turba em encontro aos invasores. Mas não era isso que devia ser feito. Minha família... Irmãos, mãe... Todos estavam desesperados. Eu queria permanecer com eles, garantir a segurança deles. Porém... Eu estava confuso... “Tudo ficará bem! Eu voltarei!” Era só o que consegui falar, antes que eu seguisse a turba.
A batalha já estava vários passos à frente quando cheguei. A noite. A neblina... O calor da batalha... Tudo estava confuso... Caótico! Eu pouco conseguia definir quem era inimigo ou aliado. Medo... Eu não conseguia nem ao menos levantar as armas... Em um curto momento, tudo ficou escuro. Um golpe certeiro, uma força descomunal, e veio a escuridão.
Depois, imagens confusas entorpeceram minha mente. Gritos, nomes confusos, agonia... Sofrimento, silêncio. O som do sangue sendo derramando, a carne dilacerada, os gritos agonizantes. E novamente silêncio. Eu queria me mexer, mas não conseguia, não me movia, mão respondia a nada! Eu queria levantar... acordar... Correr para minha família...
Acordo tão rapidamente quando caí na escuridão. Confuso e atordoado, olho em minha volta, e me vejo nesse mesmo quarto que estou agora. Assustado, confuso e ferido, tento me levantar, mas em vão. Cáio com muita força no chão, e enquanto tento me levantar, um homem vai até mim, e me levanta, colocando-me na cama novamente. Ele diz que estou muito ferido para que possa andar, e que o melhor seria o descanso. Dias se passam, até que eu volte ao meu normal, e a primeira coisa que logo penso é “Minha família!”.
Novamente tento me levantar, mas antes que eu o fizesse, o mesmo senhor volta a entrar ao quarto. Ele se senta em um banco e me diz a catástrofe: minha terra, meu lar, minha família... Todos queimados... Destruídos pelos saqueadores... Apenas eu sobrevivi, provavelmente dado como morto, até que este me achasse,
Revolta... Fúria... Caos... Vingança... Era apenas isso que corria em minha mente... Logo me vi confuso... Com medo... Entorpecido novamente, assim como foi quando entrei na batalha... A escuridão retorna...
Mais um dia se passa... Eu não podia acreditar... Tudo perdido... Tudo! Vingança! Eu queria o sangue daqueles que haviam derramado o mesmo da minha família! E ainda o quero! Antes que eu pudesse sair do quarto, o homem me ofereceu o que eu queria. Ofereceu-me o treinamento, as armas... O Exército que era dele seria meu agora... Tudo por que tínhamos inimigos comuns, dizia ele. Ele viu em mim a justiça... A força que poderia derrotar aqueles que acabaram com o meu paraíso.
E então, tudo começou aqui... Meu treinamento, meu forjamento á guerra... Em alguns meses, a minha guerra pessoal se estendeu ao continente daqueles que o mestre dizia “invasores”... O nosso inimigo comum... Vitórias... O sangue inimigo foi derramado com a minha lâmina... E assim, me tornei o comandante... O braço direito de meu mestre...
E por que as lembranças são tão ambíguas, você diz? Não por muito... Na verdade o começo de cada uma tem em comum a guerra... Ma o que tornam elas tão estranhas são que... Às vezes, eu me lembro das batalhas que comandei... Os saques... E me vejo não muito diferente daqueles que aniquilaram o condado onde morei...Os gritos de agonia e dor... Tudo volta ao ponto onde eu renasci como guerreiro...
Em várias vezes me vejo uma máquina de guerra... Mas ainda sim há parte de mim que herdou sentimentos daquele jovem assustado que eu já fui... Uma existência ambígua, que torna as lembranças mais confusas ainda...
Mas essa neblina logo se desfaz quando me lembro do sangue derramado injustamente... Das mortes... Da minha família... Minha sede por vingança continua... E o mestre me dá o poder para que a justiça seja feita... Aqueles que um dia acabaram com vidas inocentes vão pagar! Eu agora, alegremente, carrego o nome com qual meu mestre me presenteou... O dragão negro... E os injustos sofrerão sobre a minha chama de vingança...”

sexta-feira, maio 21, 2004

Jamura...

“Já faz 6 dias de viagem desde que esse grupo saiu do reino de Ralath. Em sua marcha rumo ao noroeste do continente de Tergoz, os membros dessa comitiva tentam seguir o exemplo deixado pelos seus ancestrais da Segunda Grande Era, tentando mais uma vez colocar de lado o preconceito reunido por entre os povos, e unirem forças por uma motivação maior, que é mais uma vez lutar contra um mal vindouro.
Ainda no reino de Ralath, eles encontraram um misterioso homem, que apenas se intitulou Raphael, e este estava acompanhado por um velho, porém forte Taurino chamado de Baltor, representante da tribo do Leste do continente. Raphael usa um pesado manto, que acaba por esconder a maioria de suas feições, mas enfatiza sua altura, digna de um forte guerreiro; enquanto Baltor carrega apenas um corselete sobre seu couro branco, além de enorme machado, pesado até para o bárbaro Thork. Tais presenças gerariam uma extrema desconfiança por parte dos representantes humanos do reino de Ralath, se não fosse pela promessa de Raphael: mostrar a aqueles que lutariam pela vida dos povos do Mundo Mortal o conhecimento necessário para uma batalha justa para o mal que viria assolar o Mundo.
Acreditando, mesmo sem conhecer realmente a ligação de Raphael ao ocorrido na Segunda Grande Era, eles marcham ao Noroeste, seguindo o misterioso do manto. Atravessando vales e rios, chegam finalmente à gélida vastidão das terras de Galeros. Marcada pela desolação do gelo, poucos conhecidos se atreveram a andar por estas regiões.
Os viajantes já estavam em sua caminhada à 2 dias sem uma parada, e após passarem por uma grande cadeia de montanhas, chegaram a um estranho bosque dentro das vatidões de Galeros Atrás de Raphael, Uther, o clérigo enviado do Templo de Magnon, caminha ao lado de sua montaria, seguido de Adamis, cavaleiro fervoroso defensor dos ideais do Reino. Logo atrás deste segue Baltor, caminhando em longos e pesados passos, acompanhado por Illidan, um sutil e astucioso guerreiro andarilho. Thork anda na retaguarda, carregando sua mochila e o machado em mãos, sempre vigilante.
Cansado da viagem que aparentava fútil e sem rumo, Adamis para sua montaria e se senta sobre uma pedra coberta por neve, e virando-se com uma certa ironia para Raphael, ele exclama.
- Ah entendo! A maneira pela qual salvaremos o reino é trazendo todos para uma armadilha de gelo! Estupendo, senhor!
- Paciência e perseverança deveriam ser virtudes suas, nobre cavaleiro... – Diz Raphael, suavemente.
- Ora, chega de discussões – diz Uther, indo até Adamis – concordamos todos em vir até aqui... Porém... – Agora Uther volta o olhar para Raphael – Entendo a desconfiança de Adamis... O que sabemos sobre vocês?
- Humanos... – suspira o Taurino Baltor, num tom de voz suave e marcado pela sua idade avançada, balançando negativamente a cabeça enquanto se aproxima de Raphael – Sempre desconfiados... Sempre...
- O que você sabe sobre nós, humanos sua besta?! – Diz o enfurecido Adamis, caminhando rapidamente até Baltor, até que sua investida fora parada pelo braço de Thork em seu caminho, enquanto este último têm um olhar reprovante voltado para ele. Ainda mais enfurecido, Adamis coloca o punho cerrado à frente do rosto do bárbaro, brandindo as palavras:
- O que é? Hãn? Sentiu-se atingido pela palavra “besta”? O que é que você quer seu Orclish maldi...
- CHEGA! – Diz altivamente Raphael, olhando sob a sombra do manto. Sua voz ecoou forte por entre as matas, fazendo com que todos olhassem em sua direção.
Baltor se afasta um pouco de Raphael, caminhando até um dos cavalos, dizendo logo em seguida
- Talvez seja a hora de você esclarecer um pouco para eles o que você está tentando fazer, druida...
- Druida!? – Diz Adamis surpreso, enquanto Raphael olha a mata ao redor. Este último então, diz serenamente...
- Na Segunda Grande Era desse Mundo Mortal, cinco exércitos se reuniram em uma grande batalha, que acabou por decidir a continuidade dos povos. Um desses exércitos era a Falange das Matas, formado por parte pelos druidas das Terras do Gelo. Uther – disse Raphael sem desviar sua atenção da mata – Você entre nós tem um conhecimento vasto sobre esse mundo... Por acaso notara por onde caminhamos por estes dois dias?
Uther por um momento hesita, mas acaba por observar com mais calma o que os rodeava. Era agora uma ostentosa mata, que mesmo coberta pela neve, tinha uma vegetação forte e numerosa, marcada pelos sons dos animais, e incrivelmente havia a presença de alguns raios solares. Uther parecia petrificado ao finalmente reconhecer por onde estavam passando, e com certo esforço, ele começa a caminhar, enquanto diz:
- Por Magnon! Como não reconheci antes!?
- O que há de tão importante aqui, Uther? É apenas um bosque! Um bosque repleto de gelo!
- Sua falta de ligação com o passado me fere, cavaleiro... – Diz Illidan, quebrando seu silêncio inicial.
Thork agora sobe o bosque, enquanto é seguido pelos outros. Adamis, ainda impaciente, pergunta:
- Mas o que isso tem haver com tudo? Vamos! Diga, druida!
Suspirando de leve, Raphael caminha ao lado de Thork, continuando a subia pelo grande bosque, e continua dizendo:
- Seja lá o que estiver vindo, é um mal tão forte quanto o que viera na Segunda Era. Não podemos ser pegos desprevenidos, e podemos ter certeza de uma coisa: as forças humanas sozinhas não serão desafio para o que está para chegar... Por isso estamos aqui...
Caminhando mais um pouco, eles chegam ao topo do bosque. Colocando-se a frente de todos, Raphael continua sua fala:
- Creio eu que apenas unindo novamente a força dos povos desse Mundo é que conseguiremos nos defender dessa segunda Morilenon. Para reunir o que um dia foi chamado de Nerason, precisamos conhecer realmente o que vamos enfrentar, e como. Estranhamente os invasores que atacarram os reinos humanos também atacaram as outras civilizações, e até mesmo a gélida Galeros! Seja quem for, ele nos conhece, e tem alguma ligação com os inimigos que foram enfrentados pelos nossos ancentrais na Morilenon...
- Onde você quer chegar, druida? – Diz o impaciente cavaleiro, e Raphael suspira novamente, e continua:
- Para que possamos enfrenta-los, precisaremos formar a Nerason novamente, e antes de tudo: conhecer nosso inimigo... E só conseguiremos isso com a ajuda da única Ordem que ainda se mantém, mesmo após o fim da Morilenon...
- A Ordem de Aelys... – Balbucia Thork...
- Exato... – Responde Raphael, olhando para o bárbaro, e seguidamente se virando para o outro lado do bosque, o qual deveriam descer.
- Aqui, companheiros, encontraremos os druidas das Terras do Gelo... Encontraremos a Ordem de Aelys, e o início da resistência dos nossos povos contra o nosso inimigo comum... Sejam bem vindos.. – E logo em seguida, Raphael começa a descer o bosque... Lentamente todos os seguem, até que conseguem ter a visão ampla do que havia após aquela descida.
Assim, é vista uma ostentosa floresta, coberta pela neve, mas com as copas verdes e vivas, assim como o pouco solo que poderia ser visto. A extensão dela pode ser impossível de ser adivinhada, pois ela cobre até onde a visão alcança. Os raios de Sol conseguem atravessar as pesadas nuvens, dando assim um toque ainda mais mágico à esse lugar. As árvores de diversos tipos são altas e fortes, mostrando uma imagem onipotente, em conjunto com os animais, que dão ainda mais vida á ela. Todos eles param, e olham intensamente para a floresta... Porém, apenas um deles balbucia com dificuldade, devido a surpresa...
- Jamura... – Balbucia Uther, paralizado...
- Mas... – Diz Illidan – Eu... Imaginei que fosse apenas uma lenda...
- Não é... – Responde Thork – Pelo bem de nossos povos... Não é... - E ele logo desce o bosque.
Baltor para ao lado de Uther, e notando a fascinação do clérigo, ele volta o olhar para a magnífica floresta e diz:
- Por várias vezes eu fiz essa travessia, e por essas mesmas vezes eu me presenciei tal visão... Mesmo sendo inúmeras minhas vindas até Jamura, toda vez que olho para ela é...
- Magnífico... – Balbucia novamente Uther.
- Sim... – diz ele, olhando para Uther, e logo voltando o olhar para a mata, rindo – Magnífico...
Baltor se coloca a andar, junto com o resto do grupo. Uther ainda permanece parado ao alto do bosque, ainda maravilhado com tal presença. Por muito tempo Uther se perguntava o que realmente os druidas defendiam... Se eram suas entidades, ideais, ou se eram apenas eremitas isolados do resto do mundo... Por um momento, ao olhar a magnificência da floresta de Jamura, Uther imaginou ter suas perguntas respondidas...”

GLossário...
* Morilenon: expressão élfica para a "A Era Negra", que caracteriza a grande guerra ocorrida no fim da Segunda Grande Era.
*Nerason: expressão do dialeto anão a qual caracteriza a "Coalizão das Armas", formada pelo Exército do Alvorecer, A Ordem do Norte, a Falange das Matas, a Irmandade de Melindor e a Tropa de Sirhan.
* Orclish: raça produzida através da mistura de sangue humano e orc.(Vulgo meio-orc)


domingo, maio 16, 2004

Um ponto de partida...

Realmente existe um início para tudo. Este não é o início para essa estória, é apenas o ponto de partida para que ela seja escrita por completo um dia. Por isso peço-lhe ajuda, pois desse texto pode vir a aparecer um grande, ou pelo menos bom trabalho.
“A Lua é a única luz para gigantesca floresta. Sons dos mais diversos tipos ecoam por entre as árvores e matas. Pássaros, insetos, as copas das árvores lançadas ao vento. Inúmeros sons são ouvidos a todo o momento, mas aquele que mais se destaca é o dos passos. O ar corta ao toque, mas nenhum deles sente o frio... Estão concentrados demais para perceber.
O sagrado levanta o símbolo de sua fé, espalhando luz por uma grande área, que acaba por afastar um pouco a escuridão. As tochas de cada um balançam ao vento, oscilando em várias direções. O guerreiro, com sua lâmina prateada em mãos, vasculha as matas ao redor de seu caminho, em busca dos invasores. O arcano dispõe-se a colocar seus amuletos e focos a postos, esperando o quase inevitável. Os seus sentidos enriquecidos pela magia podem sentir o ar pesado e corrompido.
Um som se torna alto demais para uma floresta tão serena. O bárbaro, ora vigilante e silencioso, rapidamente se vira e se coloca em posição, brandindo ao vento o temeroso machado. Lentamente, o misterioso afasta o manto e ajoelha-se sobre a terra, pegando um pouco da mesma e levando-a ao rosto, deixando a mostra o punho na qual a crescente azul, que parece reluzir junto à Lua, está tatuada. O odor presente no solo, junto à energia profana que infesta o ambiente, confirma seus pensamentos.
O som se repete. A floresta toda responde ao som, dessa vez mais alto. A última coisa que pode ser percebida foi o som dos vários animais em fuga, e o farfalhar das folhas das imensas árvores.O bruto impõe seu machado, tomando a frente do grupo e se prontificando ao combate. Um a um eles aparecem, brandindo as suas lâminas negras e corrompedoras. O guerreiro impetuosamente se coloca ao lado do bárbaro, gesticulando ao resto do grupo. O mago reúne as suas forças, enquanto o clérigo impõe seu martelo e faz a sua reza, em nome de sua fé. O senhor da crescente se levanta, tão lentamente quanto da vez que se ajoelhara, retirando o escudo e a elegante lâmina das sombras de suas pesadas roupas.
Todos se preparam. Um a um eles aparecem, com seu olhar vazio e ameaçador. Um a um. De costas um para outro, os heróis se colocam a postos. Armas em punho. É chegada a hora...”.