quinta-feira, setembro 09, 2004

O Livro de Thel

Mote de Thel
Sabe a Águia o que há na toca?
Ou à Toupeira perguntarás de que se trata?
Cabe a Sabedoria numa vara de prata?
Ou o Amor numa taça de ouro?
I
As filhas de Serafim conduziam suas ovelhas radiantes, Todas, salvo a mais jovem:
lívida, buscou ela um ermo, Para definhar como beleza matutina em seu dia mortal:
Pelo rio de Adona, ouve-se o sussurro de sua voz, E assim seu suave lamento cai como
orvalho da manha:
"Oh vida de primavera! por que definha o lótus, Por que definham as crianças da
primavera, nascidas apenas sorrir & perecer?
Ah! Thel é como pálido arco-íris, e como nuvem que parte;
Como reflexo num vidro; como sombras na água;
Como sonhos de crianças, como um sorriso no rosto de uma criança;
Como o arrulho de um pombo; como o efêmero; como música no ar.
Ah! serena possa eu me deitar, e serena pousar minha cabeça,
E serena dormir o sono da morte, e serena ouvir a voz Dele, que caminha pelo jardim ao
aonoitecer".
O Lírio do vale, respirando na relva humilde, Respondeu à graciosa donzela, dizendo:
"Sou uma planta aquática, Sou pequenina e adoro viver em vales baixos;
Tão frágil, a borboleta dourada mal consegue pousar em minha cabeça.
Todavia, visita-me o céu, e aquele que a tudo sorri
Caminha pelo vale e toda manhã sobre mim estende a mão,
Dizendo: ‘Alegra-te, tu, relva humilde, tu, flor de lírio recém-nascida,
Tu, meiga donzela de vales silentes e riachos modestos;
Pois de luz serás vestida, e nutrida com o maná da manhã,
Até que o calor do verão te dissolva junto às fontes e às nascentes
E floresças em vales eternos’. Por que então deve Thel Lamentar?
Por que deve a ama dos vales de Har emitir um suspiro?"
Ela acalmou-se & sorriu entre lágrimas, sentando-se então em seu trono de prata.
Thel respondeu: "Oh virgenzinha do pacífico vale,
Tu, que provês aos que suplicar não podem, aos emudecidos, aos fatigados;
Teu hálito nutre o inocente cordeiro, ele fareja tuas vestes lácteas,
Pasce tuas flores enquanto para ele sorris,
Removendo-lhe da boca meiga e mansa todas as máculas contagiosas.
Teu vinho purifica o mel dourado; teu perfume,
Que esparges sobre cada laminazinha de relva que brota,
Reanima a vaca ordenhada, & amansa o corcel inflamado.
Mas Thel é como tênue nuvem abrasada ao sol nascente:
Esvaneço de meu trono perolado, e quem encontrará meu lugar?"
‘Rainha dos vales’, respondeu o Lírio, "pergunta à frágil nuvem
E ela te dirá por que reluz no céu da manhã,
E por que difunde sua luminosa beleza no ar úmido.
Baixa, Oh pequena Nuvem, & paira ante os olhos de Thel"
A Nuvem baixou e o Lírio, depois de inclinar a cabeça modesta,
Foi ocupar-se de seu numeroso rebanho no relvado viçoso.
II
"Oh pequena Nuvem", disse a virgem, "peço-te que me digas
Por que não te queixas quando, num instante, desapareces;
Então te procuramos, mas não encontramos. Ah! Thel se parece contigo:
Dissipo-me: contudo, queixo-me, e ninguém ouve minha voz."
Em seguida, a Nuvem mostrou a cabeça dourada & uma forma luminosa surgiu,
Pairando e reluzindo no ar, ante o rosto de Thel.
"Oh virgem, não sabes que nossos corcéis bebem das nascentes douradas,
Onde Luvah revigora seus cavalos? Consideras minha juventude
E temes, porque esvaneço para jamais ser vista,
Que nada fique? Oh donzela, digo-te, quando me dissipo
É para engrandecer a vida, o amor, a paz e os êxtases sagrados:
Baixando invisível, sustenho minhas alas leves sobre flores aromáticas,
E cortejo o orvalho de olhos claros para que me conduza a sua tenda cintilante:
A virgem plangente ajoelha-se, trêmula, ante o sol nascente,
Até que nos elevamos ligados por uma faixa dourada e nunca nos apartamos,
Mas caminhamos unidos, alimentando nossas flores delicadas"
"Verdade, Oh pequena Nuvem? Temo não ser como és,
Pois caminho pelos vales de Har, e sinto o aroma das flores mais doces,
Mas não alimento as florzinhas; ouço o gorjeio dos pássaros,
Mas não alimento os pássaros que gorjeiam; eles voam em busca de seu alimento:
Mas Thel já não se deleita com isso, porque definho;
E todos hão de dizer: ‘Para nada viveu essa mulher fulgurante,
Ou viveu apenas para servir, na morte, de alimento aos vermes?"
A Nuvem recostou-se em seu trono aéreo e assim respondeu:
"Se serves, então, de alimento aos vermes, Oh virgem dos céus,
Quão útil, quão afortunada és! Tudo o que vive
Não vive sozinho nem para si mesmo. Não temas, pois pedirei
Ao frágil verme que deixe o leito inferior, para que ouças a voz dele.
Vem, verme do vale silente, à presença de tua tristonha rainha".
O indefeso verme apareceu, sentou-se na folha do Lírio,
E a luminosa Nuvem partiu, para juntar-se ao companheiro no vale.
III
Atônita, Thel viu então o verme em seu leito orvalhado.
"És um Verme? Imagem da fragilidade, não és mais que um verme?
Vejo-te como uma criança envolta na folha do Lírio.
Ah! não chores, pequena voz, podes não falar, mas chorar podes.
É isso um Verme? Vejo-te indefeso & nu, chorando,
E ninguém para acudir, ninguém para confortá-lo com sorriso de mãe."
Ouvindo a voz do Verme, a Argila ergueu a cabeça compassiva:
Inclinou-se sobre a criança plangente, e sua vida exalou
Branda ternura: em seguida, em Thel fixou os olhos humildes.
"Oh beleza dos vales de Har! não vivemos paranós mesmos.
Julgas-me a mais vil das criaturas, e de fato o sou.
Meu peito em si é frio, e em si é negro;
Mas aquele que ama o humilde deita sobre minha cabeça seu óleo,
E me beija, e em torno de meu peito ata seus laços nupciais,
E diz: ‘A ti, mãe de meus filhos, amei,
E a ti ofereci uma coroa que ninguém há de usurpar’.
Mas como isso sucede, doce donzela, não sei, e saber não posso.
Pondero, e ponderar não posso; todavia, vivo e amo.
A filha da beleza enxugou com seu véu branco as lágrimas misericordiosas,
E disse: "Ai de mim! Disso eu não sabia, e então chorei.
Que Deus amava um Verme eu sabia, e punia o perverso pé
Que de propósito ferisse seu corpo indefeso; mas que o nutria
Com leite e óleo eu nunca soube, e então chorei;
E lamentei no doce ar, porque definho,
E deito-me em teu leito frio, e abandono meu destino fulgurante"
"Rainha dos vales’, respondeu a Argila matrona, "ouvi teus suspiros,
E todos os teus queixumes sobre meu teto se agitaram, mas fi-los descer.
Queres, Oh Rainha, adentrar minha casa? A ti é dado entrar
E voltar: nada temas, entra com teus pés de virgem."
IV
O terrível guardião dos portões eternos ergueu a trava do norte:
Thel entrou & viu os segredos do reino desconhecido
Viu os leitos dos mortos, & onde as raízes fibrosas
De cada coração na terra cravam fundo suas irriquietas torceduras:
Um reino de tristezas & de lágrimas onde jamais se sorriu.
Ela percorreu o reino das nuvens na escuridão dos vales, ouvindo
Tormentos & lamentos; esperando, muitas vezes, junto a uma sepultura orvalhada,
Ficou em silêncio, ouvindo as vozes da terra,
Até que a sua sepultura chegou, & ali sentou-se,
E ouviu esta voz de pesar soprada de dentro da cova vazia
"Porque não podemos Ouvidos à própria destruição cerrar-se?
Ou os Olhos brilhantes ao veneno de um sorriso?
Por que estão as Pálpebras providas de setas prontas para o disparo,
Quando há um milhar de guerreiros de tocaia?
Ou Olhos de dons & graças chovendo frutos & moedas de ouro?
Por que a Língua impregnada do mel trazido dos ventos?
Por que os Ouvidos, ferozes sorvedouros para sugar citações?
Por que as Narinas amplas inalando terror, trêmulas, & atemorizadas?
Por que um brando freio no vigoroso jovem ardente?
Por que uma pequena cortina de carne no leito de nosso desejo?"
Sobressaltada, a Virgem ergueu-se de seu assento, & com um grito estridente
Fugiu dali livremente, até entrar nos vales de Har.

Como prometido...
Divrtam-se!

De onde a Chuva Brota...

“Mudanças dos ventos, o cheiro de terra molhada, as nuvens escuras. Chuva. Sim, todos esses são indícios de sua chegada. Há quem gosta dela, que corre enquanto ela cai, rodando e dançando, comemorando sua vinda, ou simplesmente a ignorando. Há outros que não... Que simplesmente se fecham em sua casa, em seu quarto... Esperando com que ela vá embora, e com ela o incômodo.
Cada humano é um eterno ímpar. Cada um será sempre esse um. Talvez com semelhanças entre dois ou mais, mas ainda sim, cada um será um único, um original. E para cada um, um significado diferente para a chuva. Muitas pessoas ligam a chuva à tristeza... O céu escuro, o vento frio, que força uns a procurarem abrigo da água gélida que recai sobre nós. Outras, a ligam com a esperança, o valor do renascimento. O chão que ganha vida, os rios que são alimentados. Vida e beleza para uns, frio e lamentação para outros...
Cada um de nós tem suas próprias tormentas e chuvas. Por vezes, nos vemos isolados um dos outros por imensidões de nuvens negras ameaçadoras. Os lampejos assustadores de fúria, de agonia, e por fim, o vertiginoso mergulhar da fria gota, mistura da tristeza e da lágrima derramada. Porém, nem sempre serão somente turbilhões que atacam nossas mentes, corações e almas. A visão obscura acaba por mergulhar seu possuidor nas sombras. Fim de tudo, da vida, da esperança, da mudança. Então aqui vai meu recado para aqueles que vêem nas nuvens negras da vida o limiar de sua integridade.
As tristezas são tão inevitáveis quanto às chuvas. Todos um dia sentirão ambas, e por diversas vezes. Mas aqui não se retém a essência de nossa existência, nem é nosso destino selado e lacrado. Não... Lembrai que, para cada gota derramada, um tem a sede saciada, uma planta ganha o fluído para que brote mais uma semente, e de cada semente um novo ser, e de cada ser, novas sementes. Lembrai que, para cada nuvem, um jogo de luz diferente é feito, e assim de cada uma vem uma beleza ímpar, como nós. Lembrai que, após cada tormenta e turbilhão de nossa vida, vem a luz, seja o Sol, ou a Lua. Depois da chuva, vem a calmaria, e mesmo que por debaixo das feridas e cicatrizes que são expostas, a Vida ainda se faz e se levanta.
Esperança? Sim. Afinal de contas, do que somos feitos? Seres de esperança. E sim, essa é a visão da qual guardo da vida. Pode ser doloroso, difícil e incômodo, mas até onde vejo, a vida é feita de esperanças, e dos sentimentos que movemos em prol dela, seja a esperança pessoal, seja a de outros. Por maior que sejam as tristezas, as desavenças, as quedas... Por mais que seja sofrida, a Vida ainda está para ser vivida. Porém, nada ainda nos tira o livre arbítrio sobre o ‘até quando ela estará’.
Nessa vida estão as escolhas. Cada um escolhe seu ponto de vista, cada um escolhe seu limite de tristeza ou felicidade. A vida tem sua parte de crenças. A vida é uma amálgama entre ela e as várias outras. Entre a minha, a sua, e a de muitos outros. Aquele que pensa que é apenas um, que não há outro, se engana. A chuva não atinge apenas uma casa, nem apenas um jardim.
Todos nós devemos olhar para os céus que se formam sobre nossas existências, pois é neles que veremos a formação dessa mesma. Somos todos seres, que vivemos uma vida multifacetada, lapidada por nós e outros. De cada céu, brota uma chuva diferente, e cabe a cada um de nós dar o foco a ela, seja de tristeza e solidão, seja de esperança de um céu claro...”

Texto sobre tristeza e esperança... Se vocês acham que o autor tem algo que o incomoda, acertaram... Mas como o texto diz: A vida é de esperanças... Então, até onde eu puder, eu vou...
Comentem sobre o texto... Lembre-se: é criticando que eu vou crescer...