sábado, junho 05, 2004

Dragão Negro - Destino

"Talvez tivesse sido melhor se eu me mantivesse deitado naquele quarto escuro... Fechado naquela fortaleza fria que era me oferecido como lar... Mas tudo parecia tranquilo... A noite parecia como todas as outras... Fria e sem movimento... Toda noite era assim: a fortaleza gélida ficava sem nenhum ruído... Até parecia que todos ali estavam mortos, menos eu... Por isso, aquela noite, a mesma onde minha cabeça se perdia em lembranças, eu me levantei para andar sobre o granito frio.
Então me coloquei a andar, em meio as sombras dos corredores, ora estáticas como estátuas negras, ora oscilantes como animais à espreita de suas presas. Estranho como algo me incomodava aquela noite... Uma espécie de intuição, ago que não me deixava enconstar a cabeça e dormir, sem que imagens viessem e perturbassem minha tentativa de sono. Aquele lugar aparentava vazio, mais vazia de vida do que o original... Não sei se ra sempre assim e eu não notava, ou se era apenas minha cabeça maquinando novamente, mas sem dúvida... Estava tudo muito morto...
Em meio a minha caminhada solitária, eis que vejo então uma luz... Uma tocha ao que aparentava, movendo sozinha, como se flutuasse. É certo de que sou acostumado com coisas aém da imaginação,mas aquilo estava me intrigando. Um pouco de força na visão, e consegui reconhecer alguém, um homem forte vestido com um manto escuro e pesado, caminhando no corredor, bem mais a frente que eu, e por isso não notara seu observador. Não sei o que me fez andar e seguir o homem, mas eu o fiz... Silenciosamente, ambos andamos até os aposentos daquele que eu chamava de mestre... Foi então que reconheci quem poderia sr o andarilho noturno, e sendo assim, resolvi deixá-lo em paz... Porém, ouvi uma voz desconhecida, grave e tenebrosa, que parecia conversar com o mestre. Curioso, resolvi ficar e observar quem era o visitante...
Não ouvi nomes... Mas, ao que parecia, aquele que falava com o mestre seria também um mestre... Mestre daquele que eu denominava assim... A conversa era típica para a ocasião: os exércitos voltavam de uma campanha, e voltavam vitoriosos... Falavam de estratégias, baixas e pilhagens... Resultados gerais de uma guerra... Aos meus ouvidos os relatos eram bons, mas parecia que o mestre superior não concordava.
Em instantes, a voz dele se tornou agressiva... Prguntava que espécie de resultados eram aqueles que eram entregues a ele, e que não acreditava que mantinha um exército para que fosse obtido apenas aquilo. Meu mestre até tentou fazer com que seu superior entendesse que os resultados eram bons, mas contra a força da opressão da patente não havia argumentos... A conversa, que mais parecia um sermão, caminhou até ao ponto de que o acusado de tais resultados se tornasse o general das tropas: eu...
O diziam meu nome como se me conhecessem a tempos, principalmente aquele que se dizia "superior"... Dizia que alguém que se tornara o que sou da maneira que tudo aconteceu, cedo ou tarde acabaria dando problemas... Mas o que havia de errado com o meu passado? Até onde sabia era o passado que vários alí tínhamos em comum: perdermos o que amávamos para aqueles que atacávamos, fazíamos a nossa vingança! Nossa justiça! O que havia de errado nisso!?
Eu estava confuso... O estranho que aquele que eu considerava mais próximo de um pai, não parecia tentar qualquer tipo de defesa... Apenas ouvia como os soldados que eu comandava, e quando fazia outra ação, lamentava... O que estava acontecendo alí? Quem era aquele...?
Foi então, em meio a essa discussão, que as palavras que mudariam tudo foram ditas...
- Madita seja aquela noite que você recolheu aquele garoto! Maldita! O que você tinha na cabeça? Você devia tê-lo matado! Assim como fez com o resto daquela vila infame! Por que você não o fez!? Maldita seja aquela noite em que concordei com tal sacrilégio!
- Mas meu senhor... Ele agora é nosso maior general...
- SEU maio general, seu idiota! Eu deveria te matar... Até quando você vai sustentar essa farsa!? Até quando você vai chamá-lo de Dragão Negro, fingir que ele realmente luta por justiça!? Você acha que isso vai durar muito?
- O que o preocupa? Ele é cego pela sede de vingança que desencadeia o espírito... Como ele poderia...
- Esqueceu quem sou, infeliz!? Dargor! Eu sei do que falo! Sinto que esse pode vir a se tornar um problema grande... Quero que acabe com isso de vez!
- E o que quer que eu faça, senhor?
- Faça o que devia ter feito a tempos... Mate-o!
- O senhor acha que realment devemos matá-lo? Ele não parece ameaça...
- Algo contra a idéia, ser?
- Não meu senhor... Apenas o fato de peder um bom general... Mas se acha que ele pode vir a ser um incômodo, eu o obedeço de bom agrado, ó senhor das sombras...
- Ótimo... Venho em breve...
Então era isso... Eu fui nada mais que maquinação daquele que eu chamava de mestre?! Tudo que eu lutava, então era apenas uma espécie de teatro? Mentiras! Eu me fiz em base de mentiras! Escuridão... Tonteiras... A névoa sobre os olhos... Tudo igual aquela noite onde eu era apenas mais um soldado fadado a morrer nas mãos daquele que eu já chamei um dia de pai... Eu estava sentindo tudo de novo... Eu me tornei o que mais odiava.... Mas não ia deixar que tudo terminasse apenas assim... Não mesmo...
Voltei ao quarto frio e me vesti para sair daquele local, que agora me causava mais aversão do que de costume... E logo me deparo frente à aquele que agora eu queria a cabeça... Antes que ele conseguisse qualquer ação, eu o prendi entre eu e a parede, segurando-o pelo pescoço, mas ele também parecia preparado, e logo tentara me apunhalar. Uma luta febril se desenrolara, até que um dos lados pereceu. O sangue do mentiroso agora cobria minha lâmina e minhas mãos, e logo vários dos outros mentirosos se colocaram a me caçar dentro daquele labirinto de granito. Na tentativa de fugir, forjei ali uma batalha que não deve ter demorado mais que minutos, mas para mim foi uma eternidade...
Já fora da fortaleza, nunca tinha me visto tão perdido... Nem mesmo naquela noite amaldiçoada... Agora não sabia mais nada... O que eu deveria fazer? O que eu posso fazer? O que vai ser daqui em diante...? Logo, os guardas já estavam em meu encalço... Só havia uma maneira de me livrar de problemas agora: o pântano! Lá poderia me esquivar deles e fugir... Depois pensaria em outras coisas... E assim fiz meu caminho até o pântano sujo de Kelgor...
Porém o caminho até o pântano não foi dos mais convidativos... Aqueles cães de guardas que se entitulavam soldados eram mais perseverantes do que eu imaginava... Devo ter batalhado com quinze ou vinte homens, antes ainda de chegar ao pântano que mais parecia um cemitério...
Minha cabeça estava zonza, mas tudo que eu queria era apenas fugir daquele lugar e ter um sono tranquilo... Tudo poderia ficar para depois, menos isso... Naquele momento, nada mais me importava... Afinal de contas, mesmo que em parte... A justiça já havia sido feita..."